sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Carta para o passado


Oi, Passado!
Você ainda se lembra de mim? Ainda faz parte de mim? Você parece estar tão longe, tão distante que pensei em escrever um mero bilhete, pendurar na cabeceira da sua cama e torcer, rezar para que ele caísse na sua cabeça quando você acordasse.
Não escrevi para reclamar de você. Pois te considero muito mais que alguns relacionamentos afetivos que não deram certo. Amizades acabarram, namoros acabaram, assim como a infância acabou e parte da adolescência também.
Eu vivo, Passado! Ainda vivo, por você, apesar de você. E não, você não me condena, me entristece. Deixa-me nostálgica. Dengosa. Lembro de morros de barro, bonecas sem pernas, cordas desfiadas. Ser criança, ô Passado, porque fui tão pouco criança?
Inicio de adolescência. Também se foi. Foi. Foi rápido demais. Mas foi bom e dolorido. Aprendi a chorar, não pelo Mertiolate ou pelos cacos da boneca de porcelana.
Tudo bem, Passado. Você venceu. Faz parte de mim, no entanto, quero abrir mão de você. Eu quero o Presente, que tão logo me deixará também, se misturando a você e virando membro seu. Só vive quem te deixa passar, Passado, passando. Essa é a última carta. Meu último contato com você. Deixo-te como a criança que deixa a mamadeira, como a moça deixa a cidade natal.
Hei de ser feliz!
Um abraço apertado.
- Cecília P.

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